Deus se revela
Conta-se que um jovem chinês, depois de um longo caminho entre as montanhas de seu país encontrou um sábio de idade avançada e fez-lhe uma pergunta fundamental: “Mestre, para quê estamos neste mundo?”. O sábio respondeu-lhe: “Estamos neste mundo, para comer arroz”.
Esta resposta do sábio deve ter causado alguma desilusão no jovem, como pode causar em muitos de nós. Seria muito triste que estivéssemos neste mundo apenas para aproveitar a vida comendo arroz. Seria assustador pensar que uma vida inteira vivida neste mundo não tivesse uma grande finalidade, um objetivo profundo. O antigo Catecismo, chamado de Catecismo de São Pio X, trazia a seguinte pergunta: “Para que fim o homem foi criado?”; e logo vinha a resposta: “O homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo, e depois gozá-lo para sempre no outro mundo” Do Catecismo de São Pio X.
A finalidade, o objetivo da vida do homem e da criação inteira é o próprio Deus, foi Ele quem tudo criou: “No princípio, Deus criou os céus e a terra” Gn 1,1. E é Ele quem dá vida, existência e movimento a todas as coisas: “Porque é Nele que temos a vida, o movimento e o ser” At 17, 28.
Contudo, recordemos que se Deus quisesse, Ele poderia ficar escondido eternamente em Sua Glória e nós nunca saberíamos de sua existência, se nós O sabemos, é porque Ele quis se revelar. A revelação de Deus ao homem, nós a reconhecemos na Palavra de Deus que chamamos também de Depósito da Fé.
Deus se revelou primeiramente aos nossos pais, Adão e Eva no Paraíso, e mesmo quando estes pecaram, Deus continuou comunicando-se com o homem, como afirma a Oração Eucarística: “E quando pela desobediência o homem e a mulher perderam a Vossa amizade, não ao abandonastes no poder da morte, mas a todos socorrestes com bondade, para que ao procurar-Vos Vos pudessem encontrar” Da oração Eucarística IV.
Deus continuou se revelando a Noé, a Abraão, a Isaac, a Jacó, também chamado Israel. Deus se compromete com uma aliança com estes primeiros pais, chamados Patriarcas. A Aliança é o compromisso de Deus com seu servo e com seu povo em guardá-los, amá-los, a fazê-los felizes, e por outro lado está o compromisso do povo em ser fiel unicamente a Deus. Eis alguns exemplos:
- A Aliança de Deus com Noé: “Vou fazer uma aliança convosco e com vossa posteridade, assim como com todos os seres vivos que estão convosco: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, desde todos aqueles que saíram da arca até todo animal da terra. Faço esta aliança convosco: nenhuma criatura será destruída pelas águas do dilúvio, e não haverá mais dilúvio para devastar a terra.”
- A Aliança com Abraão: “Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos” Gn 12, 2.
A Abraão e sua esposa Sara tão idosos, Deus deu um filho chamado Isaac. Deus renovou sua aliança com Isaac e com o filho de Isaac, Jacó, também chamado de Israel. E é de Israel cujos descendentes formarão o Povo de Deus, o Povo de Israel.
Dos doze filhos de Israel, o que recebeu uma benção especialíssima foi Judá: “Judá, teus irmãos te louvarão. Pegarás pela nuca os inimigos; os filhos de teu pai se prostrarão em tua presença... Não se apartará o cetro de Judá, nem o bastão de comando dentre seus pés, até que venha aquele a quem pertence por direito, e a quem devem obediência os povos” Gn 49, 8.10.
“O Povo ficará escravo no Egito, será
liberto por Moisés, conduzido no deserto, e no deserto Deus fará aliança com seu povo pelos Dez Mandamentos e toda a Lei de Moisés”.
O Povo ficará escravo no Egito, será liberto por Moisés, conduzido no deserto, e no deserto Deus fará aliança com seu povo pelos Dez Mandamentos e toda a Lei de Moisés.
O Povo chega a Terra Prometida onde muitas vezes rejeita a Aliança, e por meio de Juízes e Profetas reconcilia-se com Deus; e será com o Rei Davi, da tribo de Judá que Deus firmará mais uma vez a Sua Aliança: “Quando chegar o fim de teus dias e repousares com os teus pais, então suscitarei depois de ti a tua posteridade, aquele que sairá de tuas entranhas, e firmarei o seu reino. Ele me construirá um templo, e firmarei para sempre o seu trono real. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Se ele cometer alguma falta, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de homens, mas não lhe tirarei a minha graça, como a retirei de Saul, a quem afastei de ti. Tua casa e teu reino estão estabelecidos para sempre diante de mim, e o teu trono está firme para sempre” 2 Sm 7, 11-16.
A partir daí os Profetas apresentarão o Salvador prometido, o Messias, como Rei descendente do Rei Davi. A Revelação tem seu ponto mais alto na realização plena da Aliança: Jesus Cristo. Jesus Cristo é o Messias prometido, o descendente de Davi, o Leão da Tribo de Judá, a benção da descendência de Abraão, o novo Adão.
“... pois o que antes falava por partes aos Profetas agora nos revelou inteiramente, dando-nos o Tudo que é seu Filho”
Que Jesus é a plenitude da Revelação, o diz a Carta aos Hebreus: “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas” Hb 1, 1-2.
O Catecismo da Igreja Católica repete textualmente as palavras de São João da Cruz que comentam o texto bíblico citado acima: “Porque em dar-nos, como nos deu Seu Filho, que é sua Palavra única (e outra não há), tudo nos falou de uma só vez nessa única Palavra, e nada mais tem a falar, (...), pois o que antes falava por partes aos Profetas agora nos revelou inteiramente, dando-nos o Tudo que é seu Filho” CIC, 65.
Como veremos adiante é na Fé que acolhemos a Deus que se revela em Jesus Cristo. Mas, o que podemos dizer desde já que Deus se revela a nós para que participemos de Seu Amor, e sejamos felizes.